Engenho de Histórias de Dona Passa é um espetáculo intervenção baseado na contação de histórias.
A atriz Renata Ferreira sob direção de Vívian Coronato faz surgir uma senhora de 68 anos para lá de real diante do público.
Histórias sobre namoro, sexualidade, farinhadas, bruxas e lobisomens são narradas.
Dona Passa vem há mais de dez anos encantando públicos de todas as idades. Além das histórias, a velhinha faz questão de benzer o público espectador que também é convidado a participar ativamente do espetáculo por meio da ratoeira - cantiga popular animada por improvisação de versos.



domingo, 20 de abril de 2008

Dona Passa na Barca dos Livros


No último dia 12, sábado, Renata Ferreira apresentou uma nova versão do Engenho de Histórias na Barca dos Livros (Rua Senador Ivo d´Aquino, 103, Lagoa da Conceição, Florianópolis). Versão-risco, versão ainda em construção. Nela, a atriz dispensa a maquiagem e se transforma diante do olhar do público. Tudo compartilhado com a nova direção (melhor nova co-direção, compartilhamento), que leva meu nome.
Afinal, onde estão as histórias?
Renata nos lembra que elas estão também no corpo.
Cada acontecimento vivido deixa no corpo sua marca profunda, disse o psicólogo Leloup.
Cada história ouvida, cada sensação, cada acontecimento inventado também, complementaria eu, numa simples intuição poética. Afinal, como Pessoa, sinto que todos somos seres que não cabemos em um só, em uma só máscara, em uma só personalidade. Somos multiplos. Somos histórias...


NÃO SEI QUEM SOU, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros).
Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta traições de alma a um caráter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenha.
Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore [?] e até a flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada [?], por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.

Fernando Pessoa


Vívian Coronato